
O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurodesenvolvimental caracterizado por padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade que causam impactos significativos no funcionamento acadêmico, social e ocupacional.
Com prevalência global de 5-7% em crianças e 2-5% em adultos (Faraone et al., 2021, Nature Reviews Disease Primers), o TDAH pode persistir da infância à idade adulta, com variações na apresentação dos sintomas. Apesar dos avanços científicos, o diagnóstico permanece desafiador devido à complexidade de fatores genéticos, neurológicos e ambientais, exigindo uma abordagem clínica rigorosa.
O processo de avaliação para diagnóstico
O diagnóstico de TDAH é clínico, baseado na observação de sintomas, histórico do paciente e exclusão de condições alternativas, sem depender de exames laboratoriais ou de imagem. Os sintomas devem iniciar antes dos 12 anos, persistir por pelo menos seis meses e causar prejuízo funcional em pelo menos dois contextos (ex.: casa, escola, trabalho).
A avaliação neuropsicológica começa com uma anamnese detalhada conduzida por um profissional especializado, como psiquiatra, neurologista ou psicólogo, que coleta informações sobre desenvolvimento, comportamento e impacto dos sintomas.
Relatos de pais, cuidadores e professores são essenciais para confirmar a consistência dos sintomas em diferentes ambientes. Escalas comportamentais validadas, como a SNAP-IV ou Conners’ Rating Scales, fornecem dados quantitativos, mas complementam, sem substituir, o julgamento clínico. No Brasil, o SNAP-IV é amplamente utilizado devido à sua validação local. Fatores socioculturais, como estresse familiar ou demandas escolares, são considerados para evitar diagnósticos errôneos.
Etapas do Processo de Avaliação
Etapa | Descrição | Ferramentas |
Anamnese | Histórico médico, desenvolvimental e psicossocial | Entrevistas com paciente e informantes |
Relatos de informantes | Observações de pais, professores, cuidadores | Escalas como SNAP-IV, Conners’ |
Avaliação clínica | Identificação de sintomas e impacto funcional | Critérios do DSM-5-TR e CID-11 |
Critérios para o diagnósticos de déficit de atenção
O DSM-5-TR classifica o TDAH em três apresentações: predominantemente desatenta, predominantemente hiperativa/impulsiva e combinada. Para crianças até 16 anos, são necessários pelo menos seis sintomas (ou cinco para indivíduos ≥17 anos) em uma ou ambas as categorias (desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade), presentes por seis meses, com impacto funcional significativo. A CID-11 exige sintomas persistentes em múltiplos contextos, com exclusão de causas situacionais, e reforça a necessidade de prejuízo funcional.
Exemplos de sintomas de desatenção (DSM-5-TR):
- Dificuldade em manter o foco em tarefas escolares ou profissionais.
- Erros por descuido em atividades detalhadas.
- Esquecimento de compromissos ou tarefas diárias.
- Evitar tarefas que requerem esforço mental prolongado (ex.: lição de casa).
Exemplos de sintomas de hiperatividade/impulsividade:
- Falar excessivamente ou interromper conversas.
- Dificuldade em permanecer sentado em sala de aula ou reuniões.
- Agir sem considerar consequências (ex.: responder antes de a pergunta ser concluída).
- Inquietação motora, como mexer mãos ou pés constantemente.
Diagnóstico diferencial e comorbidades
O diagnóstico diferencial é crucial para distinguir o TDAH de condições com sintomas sobrepostos, como transtornos de ansiedade, depressão, transtorno do espectro autista, distúrbios do sono ou dificuldades de aprendizagem. Ainda, descartam-se causas médicas (ex.: hipotireoidismo, epilepsia) ou psicossociais (ex.: trauma, bullying). Exames laboratoriais ou de imagem podem ser usados para excluir condições neurológicas, mas não são rotina.
Comorbidades afetam 60-80% das crianças com TDAH, incluindo transtorno opositor desafiador (TOD), transtorno de conduta, dislexia e transtornos de humor. Um estudo de Biederman et al. (2021, Journal of Clinical Psychiatry) indica que comorbidades aumentam o risco de desfechos negativos, como baixo desempenho escolar, exigindo uma abordagem multidisciplinar com psiquiatras, psicólogos e neuropsicólogos.
A importância do acompanhamento escolar
A escola é um ambiente-chave para identificar e gerenciar o TDAH. Professores frequentemente notam sintomas como dificuldade em iniciar ou concluir tarefas, interrupções frequentes ou inquietação motora, fornecendo dados cruciais para o diagnóstico. Relatórios escolares detalhados, incluindo observações sobre desempenho e comportamento social, ajudam a avaliar o impacto funcional.
Após o diagnóstico, intervenções escolares são essenciais. Adaptações como pausas programadas, instruções simplificadas e reforço positivo melhoram o desempenho acadêmico. Intervenções baseadas em evidências reduzem problemas comportamentais em até 50% em crianças com TDAH. A colaboração entre escola, família e profissionais de saúde é fundamental para o sucesso.
Abordagem terapêutica integrada
O tratamento do TDAH deve ser individualizado, combinando intervenções farmacológicas e não farmacológicas. Medicamentos psicoestimulantes, como metilfenidato, são eficazes em 70-80% dos casos moderados a graves, melhorando a atenção e controle impulsivo.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é recomendada para desenvolver habilidades de organização e regulação emocional, especialmente em adolescentes e adultos.
Intervenções psicopedagógicas, como treinamento de habilidades acadêmicas, e programas de treinamento parental são eficazes, reduzindo conflitos familiares em até 40%. Destaca-se ainda a importância da psicoeducação para pais, promovendo estratégias de manejo comportamental.